"A Exortação Sacramentum Caritatis ajusta-se ao espírito programático do pontificado. O Papa considera que décadas de relaxamento católico permitiram a promulgação de leis "socialmente corrosivas", e exige um cerrar fileiras. Quer ele que a Igreja não se definem pelo número de fiéis mais ou menos teóricos, mas pela qualidade, consciencialização e activismo dos mesmos. Para ele, o catolicismo deve reflectir-se da mesma forma no silêncio da reflexão prévia à eucaristia e no fragor dos debates públicos. O termo "inegociável", aplicado a questões como o aborto, a eutanásia, o divórcio, as uniões homossexuais ou o ensino católico, resulta significativo. O cerrar fileiras vem junto com um certo retorno a valores pré conciliares, como a missa em latim e o canto gregoriano, preferíveis, segundo a Exortação, às missas em língua local e aos acompanhamentos musicais mais ou menos modernos. A lembrança de que os católicos divorciados e casados de novo não podem receber a comunhão, e que devem esforçar-se para compensar sua situação irregular com "penitências e obras de caridade", complementa um quadro ao mesmo tempo retrógrado e, em um sentido político, "revolucionário". (El País, Madrid, 14-03-2007 artigo de Enric González, correspondente em Roma).